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9,32 €Um dos artistas da modelação dos espaços e sua representação, Donato Bramante, é aqui tratado como personagem central sobre quem gira a história da arquitectura do renascimento na Itália. Surgido com a qualidade de edificador em Milão no final do século XV, este arquitecto pintor absorveu as hesitações do meio regional em que se moveu e as reflexões especulativas de Leonardo da Vinci, para acreditar num modo de fazer que constituiria a sÃntese para a superação da crise. Em Roma, sob patrocÃnio das poderosas instituições religiosas, recuperou os sÃmbolos finais da grandeza do velho império levantando os templos da era católica. Por isso Bramante foi considerado o representante do renascimento pleno, do momento da perfeição que, como o instante que rapidamente se desvanece, representa o cúmulo da obra perfeita e logo se desequilibra na presunção de uma grandeza realmente ilusória. Não se pode ler Bramante sem o Leonardo especulativo, inconstante, cujos apontamentos parecem conduzir as explorações sobre a problemática do espaço central que fora a preocupação de toda a primeira geração de arquitectos florentinos. A ordenação equidistante das componentes organizadoras da função religiosa e dos seus significados procura a imitação da fórmula perfeita expressa no cÃrculo do horizonte ou na esfera celeste, aceitando o quadrado circunscrito ou a cruz de braços iguais inscrita como alternativa eficaz de aproximação ao enunciado fundamental. O homem continua a aparecer como justificador das formas criadas, mas cada vez menos é o destinatário da arte, trocado pela ideia da grandeza do poder dos prÃncipes. A corrente humanista que o tomava como pessoa merecedora da felicidade foi substituÃda pela desumanidade das estruturas gigantescas, embora correctamente proporcionadas. Um outro tema é o da organização da praça pública, imitação do forum romano antigo, que absorveu Bramante nos últimos anos da sua experiência milanesa. A tradição da vida pública nos lugares centrais dos burgos mercantis tem raÃzes fundas na organização colectiva da vida das cidades, muito dependentes das estruturas de consolidação das relações humanas. Galerias cobertas no envolvimento dos terreiros de mercado produzindo sombra e conforto à porta das lojas dos mercadores fixos eram, e ainda são, normais e frequentes nas aglomerações de toda a área mediterrânica, o que acontece desde a mais remota antiguidade. A atitude de fazer reaparecer a importância simbólica do lugar central sob o modelo do antigo percorre todo o século XV na idiossincrasia dos seus artistas comprometidos com as polÃticas urbanas. Assim sucedeu com Bramante que, contraditoriamente à linha dominante da sua arquitectura monumental, procurou reencontrar no ordenamento dos espaços públicos o espÃrito humanista de um passado recente. Resta a questão do fingimento. Os pintores, no âmbito da sua procura para a representação verdadeira do espaço, sempre recorreram à s figurações de estruturas arquitectónicas para caracterizar o ambiente das cenas que pretendiam resolver. Em geral usaram a imagem dos templos para dimensionar a realidade com cada vez melhor verosimilhança das situações pretendidas. Competindo aos artistas da produção da imagem pictórica plana simular a terceira dimensão, não espanta que um espÃrito ágil e sensÃvel como o do jovem Donato se tenha deixado seduzir pelas suas próprias qualidades e, invadindo o território das artes da produção concreta do espaço, tenha recorrido à "doce perspectiva" para realizar o impossÃvel. Era apenas mais um sintoma da crise do tempo, vencer cada dificuldade fingindo que ela não existe, ignorando a dura condição do quotidiano.